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BATISMO E PLENITUDE DO ESPÍRITO SANTO - PARTE I

06/03/2016 10:57

BATISMO  E  PLENITUDE  DO  ESPÍRITO  SANTO

John R. W. Stott

SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA

Caixa Postal 21.486 04698 – São Paulo, SP – Brasil

Título do original em inglês: Baptism and Fullness

BATISMO E PLENITUDE DO ESPÍRITO SANTO

Em seu estilo claro e lógico, John Stott traz até nós, nesta edição ampliada, o verdadeiro significado do batismo e da plenitude do Espírito Santo.

Sempre visando a unidade da família de Deus em Cristo, Stott examina cuidadosamente a promessa do Espírito (e se ela é igual ao "batismo" do Espírito), a plenitude, o fruto e os dons do Espírito. Dúvidas a respeito do Espírito Santo são tratadas sempre com base nas Escrituras Sagradas. De início, Stott nos lembra que nossas doutrinas e obras precisam ser baseadas primeiramente nas passagens didáticas do Novo Testamento, mais do que nas práticas e experiências que ele narra.

O resultado deste estudo é um quadro equilibrado da natureza e da obra do Espírito Santo. O leitor de qualquer tradição evangélica não se sentirá ameaçado, pois Stott escreve com o propósito de nos ajudar a conhecer a vontade de Deus, para que possamos segui-la e também recomendá-la a outros.

PREFÁCIO

Faz agora onze anos desde que o pastor Peter Johnston convidou-me para falar à Conferência de Islington sobre a obra do Espírito Santo. Minha palestra foi depois ampliada e publicada sob o título O Batismo e Plenitude do Espírito Santo.

Desde então, continuou se espalhando o movimento que por alguns é chamado de "neopentecostal", mas pela maioria de "carismático". Agora ele é um fenômeno de alcance mundial, e tem como líderes pessoas muito respeitadas. Não é possível analisar o cenário eclesiástico contemporâneo sem levá-lo era conta.

Não pare haver dúvidas de que Deus usou este movimento para trazer bênçãos a um grande número de pessoas. Muitos cristãos dão testemunho de terem experimentado amor e liberdade novos, uma soltura interior das amarras da inibição, uma alegria trasbordante e paz na fé, um sentimento mais acentuado de que Deus é real, uma comunhão cristã mais calorosa do que tinham conhecido antes, e um zelo renovado na evangelização. Este movimento é um desafio saudável para todos os cristãos que levam uma vida cristã medíocre e para todas as igrejas que têm uma vida enfadonha.

Ao mesmo tempo foram feitas avaliações cuidadosas, de diversos pontos de vista. Muitas vezes os líderes carismáticos são os primeiros a admitir que tem havido algumas causas de inquietação e que a tarefa do debate teológico sério apenas começou. Uma das dificuldades para uma discussão contínua é que o movimento carismático não é uma igreja ou associação organizada, com fórmulas doutrinárias oficiais. As igrejas pentecostais, que surgiram a partir do começo do século, têm confissões de fé publicadas, às quais seus pastores precisam se ater. Porém o movimento carismático anda é bastante independente e seus líderes e membros não estão sempre totalmente de acordo entre si em questões teológicas. Parece que alguns adotam uma posição totalmente "pentecostal", praticamente sem diferença se comparada à das igrejas pentecostais. Outros dizem ter tido o que eles gostam de chamar de experiência "pentecostal", que, no entanto, não formulam em termos da "teologia pentecostal" clássica. Ainda outros estão passando por um estado de mudança em sua própria maneira de ver as coisas, ainda procurando a forma más adequada de expressar teologicamente suas experiências.

Uma tal flexibilidade é muito bem-vinda, em parte porque ela é um sinal de abertura, e em parte porque deve impedir que alguém polarize a situação entre "carismáticos" e "não-carismáticos", já que parece que um número cada vez maior de pessoas tem um pé era cada um dos lados. Porém, mesmo bem-vinda, esta fluidez também torna a tarefa da avaliação mais difícil, pois nem sempre está claro a quem ou sobre quem estamos falando. Desde já quero desculpar-me se algum cristão que se intitula "carismático", ao ler estas páginas, não se reconhece no que escrevi! Eu só posso garantir que tentei ser objetivo e honesto, coletei informações de pessoas e literatura atual, e de forma alguma quis ridicularizar alguém.

Agora deixe-me explicar o motivo pelo qual eu rescrevi o livreto anteriormente publicado. Quais são as razões de uma segunda edição? 

Em primeiro lugar, ao reler o que escrevi há onze anos, algumas partes pareceram-me obscuras e outras fracas, e o todo deu a impressão de estar incompleto. Portanto, tentei esclarecer o que estava obscuro e reforçar o que estava fraco. Especificamente, dividi o material original em dois capítulos, agora intitulados "A Promessa do Espírito" e "A Plenitude do Espírito". Expandi o material destes capítulos dando ênfase em convicções comuns e indicando em quais áreas as diferenças continuam. Depois, acrescentei material novo era dois capítulos intitulados "O Fruto do Espírito" e "Os Dons do Espírito".

A segunda razão é mais pessoal. Durante os últimos anos, recebi regularmente cartas de pessoas que dizem ter ouvido que mudei de ponto de vista, depois que escrevi O Batismo e Plenitude do Espírito Santo. Não é verdade. A edição revista me dá a oportunidade de corrigir este falso rumor.

Em terceiro lugar, seja qual for nossa posição era relação a este assunto, todos precisamos permanecer em comunhão frutífera e em diálogo com os outros. Ninguém acha isto fácil. É preciso ter maturidade considerável para estabelecer e manter um relacionamento pessoal cordial com pessoas que não vêem as coisas como nós. Em uma conferência recente, achei oportuno confessar minha imaturidade, tanto por ter sido negativo demais em relação ao movimento carismático, quanto por ter relutado em ir até seus líderes e dialogar com eles. Em seguida, mencionei três áreas que me pareciam ser uma base de comum acordo para continuar o diálogo. Pode ser proveitoso o fato de registrá-las aqui.

A primeira é a objetividade da verdade. Vivemos em tempos muito subjetivos, em que o existencialismo faz uma distinção radical entre vida "autêntica" e "inautêntica", usando critérios completamente subjetivos para determinar o que é "autêntico", ou seja, o que a mim parece autêntico neste momento. Todavia cristãos, especialmente cristãos evangélicos, estão convictos de que Deus falou histórica e objetivamente, que sua Palavra culminou em Cristo e no testemunho apostólico a respeito dEle, e que a Escritura é exatamente a Palavra de Deus escrita para nosso aprendizado. Portanto, todas as nossas tradições, todas as nossas opiniões e todas as nossas experiências precisam ser submetidas ao exame independente e objetivo da verdade bíblica.

A segunda é a centralidade de Cristo. Todos concordamos também nisto, pelo menos em teoria. Nossos olhos foram abertos para ver a verdade como ela é em Jesus, e nossos lábios para confessar que ele é o Senhor. Não ternos dificuldades para endossar as grandes afirmações do apóstolo Pauto em sua carta aos Colossenses, de que Jesus Cristo é o Cabeça do universo e da igreja; de que o propósito de Deus é que ele possa "em todas as coisas ter a primazia" (1:18); de que "nele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade (2.9); e de que nele recebemos "a vida completa" (2:10, BLH).

Entretanto, não é suficiente concordar somente com os lábios com estas afirmações sobre a supremacia e suficiência de Cristo. Todos precisamos ir adiante e estabelecer as implicações disto. Alguns cristãos dão a impressão de basear-se numa doutrina de "Jesus e", tal como: "Você veio a Jesus, o que é muito bom; porém, agora, você precisa de algo mais para completar este passo". Outros dão tanta ênfase à suficiência de Cristo que parecem ter um conceito estático da vida cristã, que não dá espaço nem para um crescimento em maturidade, nem para experiências mais profundas e completas com Cristo.

A terceira área era que devermos concordar é a diversidade da vida. Isto é, o Deus vivo da natureza e da Escritura é um Deus de diversidade rica e colorida. Ele fez diferente cada ser humano, cada folha de grama, cada floco de neve. Por esta razão, eu confesso que, quanto mais eu vivo, mais hostil me torno a qualquer estereótipo. Todavia, parece que alguns de nós estão ansiosos em forçar todos a dançarem conforme a sua música, e em enquadrar os outros em seus padrões. Será que isto não é sempre reprovável? Minha convicção, que tentarei expor nas próximas páginas deste livro, é de que há uma variedade grande de experiências espirituais e uma variedade também grande de dons espirituais. Se renunciarmos ao desejo de aprisionar os outros em camisas-de-força, encontraremos uma nova liberdade e uma nova comunhão no Deus da diversidade abundante.

Finalizando, quero deixar bem claro que meu propósito com este livro não é fazer polêmica, porque sou um homem de paz, e não de guerra. Se às vezes fui negativo, isto ocorreu somente para esclarecer a verdade positiva correspondente. Também levantei algumas perguntas que, segundo me parecem, precisam ser feitas e respondidas. Mas não tenho a intenção de ferir ou confundir ninguém. Minha preocupação é tentar expor certas passagens importantes da Bíblia. E meu objetivo nisto é que todos possamos compreender melhor a grandiosidade da nossa herança em Cristo, para que nos apossemos dela de maneira mais completa, bem como a extensão da nossa responsabilidade em manifestar todo o fruto do Espírito em nossa vida, e em pôr em prática os dons do Espírito que ele, em sua soberania graciosa, nos concedeu.

 Abril de 1975  

INTRODUÇÃO

Para onde quer que olhemos na igreja hoje em dia, há uma carência evidente de uma obra mais profunda do Espírito Santo.

No Ocidente, o antigo conceito de "cristandade", que existiu durante séculos, parece estar morrendo rapidamente, à medida que mais e mais pessoas repudiam a fé de seus pais. Nos anos sessenta, na tentativa de reinterpretar o evangelho para a era moderna, os teólogos seculares negaram abertamente os elementos fundamentais do cristianismo histórico. E, tendo perdido a fé cristã em grande escala, o mundo ocidental também perdeu a ética cristã. Agora a sociedade é abertamente pluralista e permissiva. A Igreja sobrevive como instituição, mas muitas pessoas a tem como uma relíquia do passado, uma estrutura fora de moda, como as superstições a que ela se atém. Ao mesmo tempo há alguns sinais de uma renovação espiritual – focos de novo vigor em denominações mais antigas, no movimento das igrejas nos lares e em organizações para-eclesiásticas. Porém, permanece o quadro geral de uma influência cristã decrescendo de modo constante, em uma sociedade cada vez mais secular. Os ossos mortos e secos da Igreja carecem do sopro vivificante de Deus.

É verdade que em algumas partes do mundo a Igreja está crescendo com rapidez. No Congresso Internacional de Evangelização Mundial em Lausanne, em julho de 1974, ouvimos falar de "uma receptividade ao Senhor Jesus Cristo sem precedentes". Multidões estão se abrigando na Igreja, e em algumas áreas a taxa de natalidade de cristãos é maior que a da população. Tudo isto nos dá motivos de grande alegria. Ao mesmo tempo, estes movimentos populares às vezes são ofuscados por rivalidades e divisões, como nos dias da igreja primitiva, por ensinos falsos e emocionalismo superficial. Portanto, também nisto vemos a necessidade de uma obra mais profunda do Espírito Santo, já que ele é o autor de unidade, verdade e maturidade.

Entretanto, não vemos a carência do Espírito Santo somente nas igrejas mas antigas do mundo ocidental e nas igrejas mais novas do Terceiro Mundo. Podemos vê-la também olhando para nós mesmos. Certamente todos nós que dizemos pertencer ao Senhor Jesus, seja qual for nossa convicção particular, às vezes nos sentimos oprimidos por nossos fracassos pessoais na vida e ministério cristãos. Estamos cônscios de que estamos longe do padrão de Cristo, da experiência dos primeiros cristãos e das promessas claras que Deus faz em sua Palavra. Sem dúvida, estamos gratos a Deus pelo que ele faz e tem feito, e não queremos denegrir sua graça minimizando-a. Mas temos fome e sede de algo mais. Também ansiamos por um reavivamento verdadeiro, uma visitação sobrenatural e abrangente do Espírito Santo na Igreja, trazendo profundidade e crescimento; e, ao mesmo tempo, anelamos por uma experiência mais profunda, mais fica e mais completa de Cristo em nossas próprias vidas, através o Espírito Santo.

Princípios  Básicos  de  Abordagem

Antes de começarmos o estudo, deixe-me explicar quatro coisas.

A primeira é que nosso anseio e obrigação, como cristãos, deve ser o de encaixar-se no propósito pleno de Deus para nós. Ele não ficará satisfeito com nada menos do que isto; nós também não devemos nos satisfazer com algo que esteja aquém disto. Todos nós que dizemos seguir a Cristo devemos buscar uma compreensão mais clara do propósito de Deus com seu povo, ser levados ao arrependimento por não conseguirmos cumpri-lo, e continuar a nos esforçar com avidez, desejosos de tomar posse com firmeza de tudo o que Jesus obteve para nós (veja Fp 3.12-14).

Em segundo lugar, devemos descobrir este propósito de Deus na Bíblia. A vontade de Deus para as pessoas está na Palavra dEle. Nela devemos tomar conhecimento da vontade divina, e não preferencialmente da experiência particular de indivíduos ou grupos, por mais reais e válidas que estas experiências possam ser. Não devemos cobiçar o que Deus pode ter dado a outros, nem impor a outros o que Deus pode ter dado a nós, a não ser que esteja revelado claramente na sua Palavra que isto é parte da herança prometida a todo o seu povo. O que buscamos para nós mesmos e o que ensinamos a outros deve ser orientado somente pela Escritura. Somente quando a Palavra de Deus habitar ricamente em nós seremos capazes de avaliar as experiências que nós e outros podemos ter. A experiência nunca deve ser o critério da verdade; a verdade deve sempre ser o critério da experiência.

Em terceiro lugar, esta revelação do propósito de Deus na Bíblia deve ser buscada preferencialmente nas suas passagens didáticas, e não nas descritivas. Para ser mais preciso, devemos procurá-la nos ensinos de Jesus e nos sermões e escritos dos apóstolos, e não nas seções puramente narrativas de Atos. O que a Escritura descreve como acontecendo a outros não precisa necessariamente acontecer conosco; porém do que nos é prometido devemos nos apropriar, e o que nos é ordenado devemos obedecer.

É fácil entender mal o que estou tentando dizer. Não estou dizendo que as passagens descritivas da Bíblia não têm valor, porque "toda Escritura é inspirada por Deus e útil" (2 Tim. 3:16). O que estou dizendo é que o que é descritivo tem valor somente até o ponto em que é interpretado pelo que é didático. Algumas narrativas bíblicas que descrevem acontecimentos interpretam a si mesmas, porque incluem um comentário explicativo, enquanto que outras não podem ser interpretadas isoladamente, mas somente à luz do ensino doutrinário ou ético dado em outras passagens.

Por isso Paulo nos diz que as coisas pelas quais Israel passou no deserto "lhes sobrevieram como exemplos" e "foram escritas para advertência nossa" (1 Cor. 10:11; veja Rom. 15:4). Ele está se referindo a diversos episódios em que o julgamento de Deus recaiu sobre eles. Aqui temos, portanto, passagens narrativas que são úteis para o ensino. Porém seu valor não está na mera descrição, mas na explicação. Devemos evitar a idolatria, a imoralidade, a presunção e a murmuração, diz Paulo, porque estas casas são gravemente ofensivas a Deus. Como sabemos isto? Porque o julgamento de Deus lhes sobreveio, como Moisés deixa bem claro nas histórias, e como ele e os profetas ensinam em outras passagens. Entretanto, não podemos deduzir das histórias que, se pecarmos destas maneiras, morreremos por pragas ou picadas de cobras, como aconteceu com eles. De maneira semelhante podemos aprender da história de Ananias e Safira em Atos 5, que mentir desagrada muito a Deus, porque Pedro o diz; mas não podemos concluir que todos os mentirosos cairão mortos ao chão como eles.

Ainda outro exemplo: em dois parágrafos de Atos, Lucas nos diz que os primeiros cristãos em Jerusalém venderam muitos dos seus bens, tinham o restante em comum, e distribuíam bens e dinheiro "à medida que alguém tinha necessidade" (2:44, 45; 4:32-37). Devemos deduzir disto que eles estabeleceram um padrão que todos os cristãos devem imitar, de maneira que a propriedade privada é proibida aos cristãos? Alguns grupos têm pensado assim. Certamente a generosidade e o cuidado mútuo destes primeiros cristãos devem ser imitados, pois o Novo Testamento nos ordena muitas vezes que amemos e sirvamos uns aos outros, e que sejamos generosos (até sacrificiais) em nossas contribuições. Porém, o argumento baseado na prática da primeira igreja de Jerusalém, de que toda propriedade particular fica abolida entre os cristãos, não somente não pode ser mantido pelo texto, como até é contrariado claramente pelo apóstolo Pedro no mesmo contexto (Atos 5:4) e pelo apóstolo Pauto em outras passagens (p. ex. 1 Tm 6:17). Este exemplo deve nos deixar atentos. Devemos derivar nossos padrões de fé e comportamento do ensino do Novo Testamento, sempre que ele for dado, e não das práticas e experiências que ele descreve.

Em quarto lugar, nossa motivação ao buscarmos aprender o propósito de Deus do ensino da Escritura, é prática e pessoal e não acadêmica e polêmica. Somos Irmãos e irmãs na família de Deus. Amamo-nos mutuamente e estamos preocupados em conhecer a vontade de Deus, a fim de que a abracemos e a recomendemos a outros. Não temos desejo de aplicar golpes baixos uns nos outros em um debate teológico.

Depois destas quatro simples afirmações introdutórias sobre a nossa abordagem, estamos prontos para estudar pela ordem, a partir da Escritura e em relação ao debate contemporâneo, o que significa a promessa do Espírito (e se é a mesma coisa que o "batismo" do Espírito), a plenitude do Espírito, o fruto do Espírito e os dons do Espírito. 

Veja aqui a parte 02

 

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